22/12/2020 às 12:45

Minha missão é fotografar - e realizar sonhos também

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Tudo começou ano passado com o Athletico na final da Copa do Brasil e a minha vontade de acompanhar o meu Furacão lá em Porto Alegre. Numa ação sem pensar muito, na verdade uma maluquice, fiz uma promoção instantânea de ensaios que o valor não cobriam nem desgaste do meu equipamento, mas tudo pelo meu Furacão. Divulguei no meu twitter (lá eu só falo de futebol) e um monte de gente começou a me seguir, uma dessas pessoas foi a Luciana. Daí pra frente o destino se encarregou de fazer acontecer o que estava nos planos do universo.

Em junho desse ano, recebi a mensagem da Luciana sobre valores de ensaios, como funcionava. Eu perguntei qual era a sua história. A Lu estava na fase do tratamento de um câncer de mama, que havia descoberto no final do ano passado, e ela queria registrar justamente aquele momento, pra sempre lembrar da sua luta, da Luciana que ficou para trás e daquela que estava renascendo para ela. Paralisei. Pensei comigo: por quê uma história dessa chegou até mim? Com que sentido? Pra me transformar? Pra fazer eu repensar ainda mais nos pequenos grandes momentos da vida? Pra mudar a vida de alguém? Claro, que a primeira situação era o registro dela, mas como eu faria fotografias de alguém que está lutando contra uma doença que mexe tão profundamente com sua vida? Eu pensei em muitas coisas, pensei muito mesmo, eu revirei a minha cabeça e alma pra que eu chegasse na hora e fizesse acontecer. Só que pra mim não é assim. Na hora eu sabia que ia sentir e tomaria a decisão do que fazer - e assim aconteceu.

11 de julho de 2020. 16h. Praça do Athletico - Arena da Baixada - só podia ser nesse lugar, o nosso elo em comum.

Nos cumprimentamos como manda o protocolo da pandemia, de longe e sem toques, e fui conversando até encontrar a luz que considero especial. Pedi pra Lu sentar num deck de madeira sob a sombra linda de uma árvore. Comecei a conversar pra quebrar o gelo e me aprofundar mais naquela Luciana que eu estava conhecendo. Ela começou a falar sobre a sua história. Por milésimos pensei: não vou fotografar, vou filmar. Mas meu Deus Evelen, ela te contratou pra você fotografá-la, não filmá-la. Dane-se. Eu registro histórias, não importa qual meio eu use. REC sem ela saber. Minha câmera tem um modo silêncio de clicks e costumo avisar as famílias que elas não vão saber o que eu tô fotografando - santa tecnologia me ajudando naquele momento. Enfim,  ela foi falando, falando, falando... Naquele instante senti que ela queria muito mais ser ouvida do que fotografada. Ela queria alguém a ouvisse, que pudesse estar ali só pra ela, pra desabafar e contar toda a sua caminhada. Fiz algumas perguntas e ela respondendo. Até que...

- "Lu, e qual foi o momento mais emocionante que você já viu ali dentro da Baixada?"

Ela começou a se emocionar novamente.

- "Teve um jogo contra o Flamengo, que o atacante driblou o Julio Cesar (goleiro), os recentes títulos do Athlético e (respiro profundo)....tem um momento mto especial: o jogo de despedida do Bruno Guimarães. Tinha sido um ano maravilhoso, ele tava indo embora e eu chorei muito porque foi naquela época que eu descobri o câncer de mama. Nesse momento contei para os amigos de arquibancada o momento que eu estava passando".

Meu coração era só explosão por ter tomado a decisão em gravar e não fotografar. Eu tinha o depoimento mais genuíno do mundo - e eu precisava fazer algo com aquilo. Voltei a fotografar, demos uma volta na praça, fomos na esplanada do estádio (que é linda), demos até uma passada no bar que a Lu faz o esquenta pré jogo com os amigos. Finalizamos o ensaio e eu fui com aquilo na cabeça: como é que eu vou fazer isso chegar até o Bruno Guimarães que tá lá na França? Fazer um vídeo, claro!

Dias depois entreguei as fotos para a Lu. Ela amou e eu amei que ela amou (hahahaha), mas não entreguei o vídeo. Ela me contou que ia pra casa dos pais, em Londrina, e eu deixei pra enviar no dia que ela estivesse lá. Aí ela amou mais ainda, mas eu precisava ir mais adiante. Pedi autorização dela pra divulgar e ela topou. Bingo, era a chance que eu precisava pra cair na cara do gol, melhor, nas mãos do BG39 (Bruno Guimarães veste a camisa 39). 

Lembram do twitter? Então, foi por lá que apostei as minhas fichas. Pedi ajuda das minhas amigas do "atleticaníssimas" e mais todo o povo que me segue no twitter pra que o Bruno mandasse uma mensagem, um oi por ali mesmo pra Lu. E foi indo, e indo, e indo até que o empresário do Bruno entrou em contato comigo, Alexis Malavolta, dizendo que o Bruno já tinha visto e que iria responder. Só pediu um tempinho até os jogos da Copa da França e Champions League passassem pra ele responder da maneira que ela merecia. 

Eu já tinha ficado no céu, mas algo a mais nos aguardava...

O assessor do Bruno entrou em contato dizendo que eles tinham conversado com a Globo para produzir uma matéria sobre a história e que, no meio da entrevista, ele apareceria de surpresa. Eu já imaginei a Lu desabando de chorar - e, é claro que assim foi. A competência e carinho da querida Nadja Mauad foram a cereja do bolo para coroar a vitória da Lu.

Ontem eu agradeci pela milionésima vez a Lu, por ter confiando em mim, por se abrir de uma maneira tão verdadeira, por ter sido ela mesma, pela sua história...principalmente por ter me escolhido pra registrar aquele momento que ressignificou a sua vida. Lembro bem dela falando que o câncer mudou o seu modo de ver a vida, que hoje pequenas coisas tem mais sentido e que ela valoriza tudo em sua volta. Eu te digo mais Lu: você vai transformar a vida de muita gente por ter olhado com carinho o que tudo aquilo tinha pra você. Você venceu o câncer e quebrou muros de como enxergar a vida de um jeito melhor.

E quando eu me fiz todas aquelas perguntas, nem imaginaria que as respostas seriam muito maiores do que eu pensava.

Mais uma missão cumprida <3

Agradecimentos: Luciana Ferreira, Alexis Malavolta, Lucas Machado (assessor BG), Camile (RPC), Nadja Mauad, Everton (cinegrafista), Atleticaníssimas, seguidores do twitter que ajudaram no movimento e Deus - valeu por mais essa, meu brother.

22 Dez 2020

Minha missão é fotografar - e realizar sonhos também

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